Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 27 de maio de 2011

COISAS LEGAIS NO GLOSSÁRIO TEOSÓFICO


     
Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

Quero compartilhar com vocês um achado delicioso que fiz no Glossário Teosófico hoje pela manhã. A minha é a 2ª edição traduzida por Silvia Sarzana, da Editora Ground, sob a supervisão de Murillo Nunes de Azevedo, 1991.
Folheando ao acaso este tomo , parei na página 330, na definição do verbete “Luz”. Lá está escrito: “A conexão entre luz e entonação (svara) dos Vedas é um dos mais profundos segredos do esoterismo. (T.Suba Row)
A Luz é a Mansão de Ormuzd(1), segundo os Parsis; para apagar uma luz, abanam com a mão ou com um leque e, quando se trata de uma vela, cortam a ponta acesa umas três ou quatro linhas abaixo do pavio, levam para casa e deixam que se consuma perto do fogo.(Zend Avesta II, pág.567)”


Espero que por solidariedade, sintam-se tão perplexos como eu. Ler o Glossário Teosófico de Blavatsky é tão duro quanto ler a Doutrina Secreta. A expressão "a Mansão de Ormuzd" eu nem vou comentar. Ninguém pode acusar Blavatsky de ser didática e o sem número de informações que praticamente se derramam em nossos olhos engasga o mais persistente estudante.
Às vezes me lembra as classificações de Borges. Michel Foucault, filósofo francês, diz no prefácio de seu livro mais fascinante, “As Palavras e as Coisas”, que o mesmo nasceu de um texto de Borges, “do riso que, com sua leitura, perturba todas as familiaridades do pensamento.”

Jorge Luis Borges

O texto de Borges a que Foucault se refere, fala de “uma certa enciclopédia chinesa, onde está escrito que os animais se dividem em: a) pertencentes ao imperador; b) embalsamados; c) domesticados; d) leitões ; e)sereias ; f) fabulosos; g) cães em liberdade; h) incluídos na presente classificação; i) que se agitam como loucos; j) inumeráveis; k) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo, l) et cetera; m) que acabam de quebrar a bilha; n)que de longe parecem moscas.”
Ler Blavatsky, muitas vezes, me parece o mesmo.
Primeiro temos o verbete, Luz, simplesmente, e então, em vez da definição de Luz, passa-se a falar da “conexão entre Luz e Entonação (Svara) (?).
O que me chamou a atenção, no entanto, em meio a este Caos intelectual blavatskyano foi a referência ao fato que esses Parsis (que no mesmo glossário descobri serem os seguidores do Zoroastrismo, religião do Antigo Irã) “ao apagar uma luz, abanam com a mão ou com um leque”, ou seja, não sopram.
Grupo de Parsis, em Mumbai, Índia

Este, imediatamente reconheci, é um hábito e um ensinamento rosacruz. Desde os primórdios de minha afiliação nesta encarnação, em 1975, me diziam que “um rosacruz jamais assopra uma vela, mas sempre a apaga com os dedos, ou abanando ou com o abafador.” Como a Ordem Rosacruz não é uma escola de supersticiosos, logo indaguei por que se fazia desse modo, ao que recebi a seguinte resposta: “Porque considera-se desrespeitoso.” Não me satisfez, mas engoli e deixei passar. Afinal não era um grande problema.
Agora entendo a razão. A Luz, do verbete do Glossário, não é apenas a Luz em si, mas o símbolo da Luz espiritual, a Luz Divina.
Zororastro
A Vela e sua luz representam simbolicamente essa Grande Luz. Lendo sobre “Svara”, o termo sânscrito usado para definir “entonação”, na explicação do verbete, ainda no Glossário, na página 665, vejo que pode ser traduzido por “A corrente da Onda da Vida; O Grande Alento; o Alento Humano.” Ou em termos rosacruzes, Nous. E continua a explicação: “Svara, O Grande Alento, em qualquer plano de vida, tem cinco modificações, ou seja, os Tattwas, (Râma Prasad). Svara significa também: tom, entonação; acento, nota musical.” Ou seja, a tradução do verbete de Luz não foi feliz, pois deveria em vez de “entonação” ter falado em “O Grande Alento”, já que assim configuraria a imagem: o Sopro que normalmente usamos para apagar uma chama de vela.
Vi intuitivamente que O Grande Alento, manifestação do Sagrado em nós, O Espírito de Deus em Nós, não pode ser usado para fazer cessar a Luz ou qualquer um dos seus símbolos.
É muito significativa a imagem e agora fica clara. Como detentora da condição de preservadora da Tradição Mística, a Cultura Rosacruz absorveu uma prática dos seguidores do Zoroastrismo, belíssima, que representa o respeito à Luz e ao Grande Alento presente no Sopro, o mesmo sopro que Deus usou para dar vida ao Homem, no Gênesis.

Lindo.
Só que como explicado no Glossário Teosófico, Borginiano [como na classificação: a) pertencentes ao imperador; b) embalsamados; c) domesticados; d)leitões; e)sereias].
Seria divertido se não fosse tão intelectualmente angustiante. Foram três verbetes para entender um. 
Mesmo assim, que bonito.


(1) Ormuzd é o mestre e criador do mundo. Ele é soberano, onisciente, deus da ordem. O Sol é seu olho, o céu suas vestes bordadas de estrelas. Atar o relâmpago, é seu cílio. Apô, as águas, são suas esposas. Ahura Mazda é o criador de outras sete divindades supremas, os Amesha Spenta, que reinam, cada um, sobre uma parte da criação e que parecem ser desdobramentos de Ahura Mazda. Sob Ahura Mazda e os seis Amesha Spenta a mitologia persa coloca, como divindades benéficas: "Mitra", o mestre do espaço livre; Tistrya, o deus das trovoadas; Verethraghna, o deus da vitória; ela admitia, além disso, um grande número de deuses do mesmo elemento, os Izeds: fonte.http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_persa

MENTE, CÉREBRO, ALMA


VONTADE E NEUROFISIOLOGIA

Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:




Psicologia e Misticismo, um ensaio feito para uma palestra aqui na região SP2 da AMORC, em 2007, publicado no blog em agosto de 2010 foi, por quase um ano, o campeão dos textos mais lidos. Só nesta semana foi ultrapassado por outro ensaio, mas até semana passada demonstrava, com seu sucesso, o interesse que os místicos rosacruzes têm pelos assuntos objetivos, como comentei em carta com o Grande Mestre, frater Helio de Morais. E isto tem uma razão, resumida em uma frase socrática: “Só sei que nada sei.” Não é importante apenas saber, mas estar sempre aberto a novas informações e manter o espírito plástico e maleável às atualizações que acontecerão de forma inevitável, dado o avanço do conhecimento.Uma dessas importantes atualizações, no campo da Psiquiatria, aconteceu nos últimos 60 anos, qual seja o advento de medicamentos antidepressivos e drogas antipsicóticas, como a clorpromazina. Todas surgidas após 1950. Neste ano foi inaugurada a psicofarmacoterapia.
A primeira droga desse leque de possibilidades foi a Clorpromazina. Sintetizada pelo químico Paul Charpentier em 11 de dezembro de 1950, como uma evolução dos estudos dos efeitos psiquiátricos de uma outra droga, a Prometazina, um anti histamínico, ou seja, um antialérgico, usado para evitar as freqüentes complicações nas anestesias do início do século. Os primeiros testes farmacológicos foram feitos por Simone Courvoisier. “Coube ao cirurgião francês Henri Laborit em 1952 as primeiras aplicações clínicas da substância. A primeira referência do uso de clorpromazina na literatura médica surgiu num trabalho de Laborit e Huguenard em 13 de fevereiro de 1952: "Um novo estabilizador neurovegetativo, o 4560 R.P." Não era uma indicação para tratamento das psicoses. Esse uso se deve a Deniker que, após conseguir amostras do 4.560 R.P. decidiu experimentá-lo em pacientes psicóticos. A substância foi chamada na França de Largactil. Nos EUA mudou de nome e passou a se chamar Thorazine. No Brasil recebeu o nome de Amplictil.”



Clorpromazina

Assim se iniciou o período de tratamento farmacológico da doença psiquiátrica que até aquele momento jamais tinha sido objeto de qualquer abordagem por drogas. Tudo começou a mudar na compreensão da base neuroquímica do comportamento e também começou a aumentar o entendimento de que alguns cérebros já saíam do estaleiro, digamos assim, com defeitos de fábrica, e que bastariam alguns comprimidos para ajudar, não a curar, pois ainda estamos longe disso, mas estabilizar o humor daqueles que junto com leprosos e pobres sempre foram a escória dos doentes para toda a sociedade: os doentes mentais.

Quanto a depressão, a doença da perda da vontade, sua história também é curiosa. Na página 342 do Tratado de Farmacologia de Goodman e Gilman, 10ª edição, Ed. Mac Graw Hill, lemos o seguinte: “Em 1951, a isoniazida e seu derivado,... a iproniazida, foram desenvolvidos para o tratamento da tuberculose. A iproniazida demonstrou ter efeitos de elevação do humor em pacientes com tuberculose. Em 1952, Zeller e colaboradores constataram que a iproniazida , em contraste com a Isoniazida, era capaz de inibir a enzima Mono Amino Oxidase (MAO). Após investigações realizadas por Kline e por Crane, em meados da década de 1950, a iproniazida passou a ser usada para o tratamento de pacientes deprimidos. Historicamente trata-se do primeiro antidepressivo moderno clinicamente bem sucedido.” Foi assim que a própria vontade, decantada em prosa em verso, mostrou-se também uma conseqüência da saúde neuroquímica. Até hoje, a compreensão da doença mental é difícil e trabalhosa e a aceitação da mesma pela classe médica não ligada a área psiquiátrica mais ainda. Só que a mudança na quantidade de informações sobre patologias mentais aumentou tanto em qualidade e quantidade que é inevitável que nos próximos anos os distúrbios psiquiátricos ocupem um espaço semelhante ao que a diabetes ocupa hoje na clínica diária, sem a sombra do preconceito que hoje paira sobre a demência ou qualquer outro distúrbio de comportamento. Mas porque falar dessas coisas em um blog místico? Por que esta mudança de compreensão afetou de modo significativo a nossa visão da mente como uma manifestação espiritual e modificou a perspectiva das relações que até então estabelecíamos entre humor e comportamento, educação e humor, vontade e educação. Até a evidenciação de que a vontade e a capacidade de reagir ou não aos desafios do cotidiano, as angústias, os sofrimentos, principalmente aqueles de natureza mental, não dependiam unicamente de uma formação educacional ou religiosa X ou Y, mas também de uma saúde mental e neurológica capaz de acompanhar esta educação, a sociedade estava dividida entre pessoas classificadas, quanto ao caráter, em fortes e fracas, e as fracas deveriam ser severamente criticadas enquanto as fortes elogiadas por seu desempenho e capacidade, tomadas como exemplo de como um ser humano deveria ser.


Hoje, com o conhecimento que possuímos sobre as muitas possibilidades de defeitos intrínsecos de produção de substâncias e neurotransmissores no sistema nervoso, sabemos que a diferença entre um indivíduo e outro quanto ao seu caráter pode estar apenas relacionada não a sua educação, mas a quantidade de serotonina que ele é capaz de produzir. E esta capacidade está diretamente ligada a uma herança genética, a um tipo de quadro biológico dado na formação do feto, ainda no útero de sua mãe. Sem termos claro se o paciente é ou não deficiente ou bem dotado de substâncias neuroquímicas absolutamente fundamentais para se ter uma saúde mental adequada, a comparação entre um indivíduo e outro pode ser a mesma que se faz entre uma pessoa em cadeiras de rodas e outra que tenha pernas normais.
Para usar uma imagem esclarecedora, ninguém veria o menor sentido uma disputa atlética, uma corrida, por exemplo, entre estes dois indivíduos. Suas peculiaridades, seus contextos biológicos são diferentes e as disputas entre ambos devem ser, também, contextualizadas: disputas entre corredores de cadeira de rodas de um lado e corredores com pernas normais do outro.
Hoje, com diagnósticos mais rápidos e mais corriqueiros, e com a abordagem psicofarmacológica, ainda imperfeita, mas muito mais rica de opções, os transtornos psiquiátricos vão aos poucos sendo aliviados e compensados, de tal maneira e com tal eficácia, que eu diria confiar mais em um paciente psiquiátrico medicado, diante de um estresse no trânsito, do que em uma pessoa sem qualquer diagnóstico e que se acha normal psicologicamente, por isso sem medicação, mas que anda armada e é capaz de causar uma tragédia levada pelo calor do momento. Quantas outras barbaridades mais seriam causadas não por razões ditas morais, mas por uma realidade neuroquímica predisponente? Difícil dizer. Não temos os elementos necessários ainda. Tudo indica, no entanto, que sem ir ao extremo de dizer que a maldade é apenas produto da doença não tratada, muitas das pessoas que hoje classificaríamos como dotadas de uma personalidade maligna, no futuro poderão ter seu comportamento antisocial e desumano revertido pela medicação correta. Obviamente serei acusado de ser materialista em excesso e esquecer da existência da alma.

Isto, claro, é falso. E mesmo aqueles que me criticarem concordarão comigo se acompanharem meu raciocínio místico e médico. Imaginemos que o corpo é, como em um ensaio anterior eu já descrevi (“O Mergulho”, de 3 de março de 2010) um instrumento como o escafandro, para visitar este mundo da manifestação, ou Assiah.


Agora imaginem que uma peça no próprio escafandro, uma válvula ou outra parte da vestimenta, apresente um defeito que permita uma descompressão significativa no traje, afetando o raciocínio do mergulhador e provocando um comportamento alterado.
Dizem que a hipoxia, a falta de oxigênio, gera quadros de desorientação e demência.
Agora pensemos na Alma, perfeita, emanada, não criada, e por isso da mesma natureza de Deus, presa em um veículo problemático, com o qual sua visão do mundo, seu discernimento dos acontecimentos ficam prejudicados. Seria esta alma perfeita capaz de não ser afetada por estes problemas no seu veículo? Ou tais defeitos e problemas operacionais refletir-se-iam no comportamento deste espírito no mundo? Muitas vezes à sua revelia? Para um peixe, irracional, o ser a sua frente, dentro do escafandro é um com o escafandro, é um único ser.
Para o homem não espiritualizado, a alma dentro de um corpo defeituoso, com um cérebro defeituoso, é um único indivíduo, e não um ser perfeito aprisionado num veículo imperfeito.
Se ao longo dos anos, desenvolvermos uma tecnologia médica mais avançada que possa intervir nesses graves problemas que afetam a mente de muitos ou o cérebro que veicula esta mente, partindo do princípio que não seja a mesma coisa, seremos capazes de facilitar a manifestação da perfeição dessas pessoas verdadeiras, as almas nestes corpos, de modo completo e gratificante.
A Medicina é uma profissão de misericórdia. Seu único objetivo é diminuir o sofrimento daqueles que buscam seus recursos. Hoje, eminentemente, do ponto de vista orgânico. No futuro, no entanto, saberemos como diminuir o sofrimento, quiçá extingui-lo, no âmbito espiritual, por que esta divisão arbitrária e falsa entre corpo e mente já não existirá.
O “Escafandro” que usamos no “Mergulho” neste plano, o nosso Corpo, é altamente complexo e refinado, um verdadeiro biotraje, capaz de fundir-se com nosso sistema espiritual e receber instruções diretamente da mente que o ocupa, como se realmente fosse a segunda pele do espírito.
Mesmo assim não está imune a defeitos, que serão corrigidos cada vez de modo mais eficiente, de maneira que sua expressão possa ser a mais perfeita.
Recentemente, uma informação me deixou inquieto.
Uma pesquisa, aliás mais uma, estabelecia correlação entre anormalidades na estrutura neurológica, e provavelmente com repercussões neuroquímicas, e a sociopatia, um transtorno que poderia ser descrito como seres humanos que são capazes de manifestar aquilo que chamamos de Mal na sua forma mais pura e terrível, e pasmem, sem qualquer senso de culpa ou responsabilidade. No site http://clubecetico.org/forum/index.php?topic=22449.0 lemos o senguinte:
“Muitos estudos têm mostrado nos últimos 20 anos que assassinos e criminosos ultraviolentos têm evidências precoces de doença cerebral. Por exemplo, em um estudo, 20 de 31 assassinos confessos e sentenciados possuíam diagnósticos neurológicos específicos. Alguns dos presos tinham mais que um distúrbio, e nenhum sujeito era normal em todas as esferas. Entre os diagnósticos, estavam a esquizofrenia, depressão, epilepsia, alcoolismo, demência alcoólica, retardamento mental, paralisia cerebral, injúria cerebral, distúrbios dissociativos e outros. Mais de 64% dos criminosos pareciam ter anormalidades no lobo frontal. Quase 84% dos sujeitos tinham sido vítimas de severo abuso físico e/ou sexual. O grupo de assassinos incluiu membros de gangues, seqüestradores, ladrões, assassinos seriais, um sentenciado que tinha matado seu filho pequeno, e outro que assassinara seus três irmãos. Em outro estudo realizado no Canadá em 1994, no grupo mais violento de 372 homens presos em um hospital mental de segurança máxima, 20 % tinham anormalidades focais temporais do EEG, e 41% tinham alterações patológicas da estrutura do cérebro no lobo temporal. As taxas correspondentes para o resto do grupo violento foram de 2.4 % e 6.7 %, respectivamente, sugerindo assim um papel importante para os danos neurológicos na gênese das personalidades violentas, em uma proporção de 21:1 para agressivos habituais, e de até 4:1 (quatro vezes mais que na população normal), no caso de agressivos incidentais (uma única vez). O estudo conclui: "nós propomos que, embora tais discrepâncias não sejam suficientes para confirmar a neuropatologia como uma causa univariada da agressão criminosa, também não é razoável supor que sejam meram artefatos do acaso."
De acordo com os autores Nathaniel J. Pollone e James J. Hennessy, "vários estudos em um período de mais de 40 anos sugeriram uma incidência relativamente alta de neuropatologia entre os criminosos violentos, muitas vezes acima daquele encontrado na população em geral, em taxas que excedem de 31:1 no caso de homicidas acidentais." (35 Annual Meeting of the Academy of Criminal Justice Sciences, Albuquerque, NM, 14 março, 1998).

Amígdalas cerebrais
Um estudo recente mostrou com o auxílio de ressonâncias magnéticas que a região préfrontal de criminosos é 16% menor nesses indivíduo do que no indivíduo comum. Hipocampo e amígdalas estão envolvidos nas nossas escolhas morais e são determinantes na orientação de nosso caráter e consciência.
O mesmo grupo que fez esta pesquisa na Universidade da Pensilvânia alertou também que fatores ambientais como falta de estímulo adequado e deficiências nutricionais podem colaborar para constituir mentes doentias.
Sim, não devemos supervalorizar estes dados, mas da mesma maneira não podemos desprezar estas informações. Existem alterações orgânicas, cerebrais, que interferem na capacidade de altruísmo ou egoísmo, ou na formação de uma personalidade construtiva ou uma personalidade destrutiva no ambiente social.
E isto, eu pergunto, tem a ver com Maldade ou Bondade do espírito dentro destes corpos ou são meros defeitos de fabricação que atrapalham a livre manifestação do aspecto divino que todos nós possuímos?
Seria pretensão declarar uma ou outra coisa, com o atual conhecimento que temos da neurofisiologia. O que se sabe é que o Hipocampo e as Amígdalas cerebrais de criminosos são bem menores do que os indivíduos socialmente normais.
Ou seja, às vezes, já chegamos na encarnação com “escafandros mentais defeituosos”.
Qual o papel desta situação no Karma, deixo ao critério de cada um concluir.

domingo, 22 de maio de 2011

O SILÊNCIO DA INSPIRAÇÃO


Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Lá nas profundezas do Blog ( setembro de 2010) existe um vídeo maravilhoso de um colega médico da USP, Dr Sergio Felipe de Oliveira, que embora pertença a uma linha de pensamento pela qual eu não nutra simpatia, descreve conceitos espiritualistas, para mim, de forma extremamente interessante e didática.
Entre estes aquele em que ele explicita sua particular compreensão do processo mental, de maneira sintética e original. Diz ele: “Supor que as imagens que surgem em nossa mente são apenas produto do nosso cérebro é a mesma coisa que imaginar que os atores de uma novela moram dentro do aparelho.”


Sergio Filipe de Oliveira

Este trecho de sua fala me tocou pela precisão como ele aborda um problema hoje sem discussão no meio científico, mas que nas próximas décadas deverá surgir como polêmico e inovador.
O cérebro ainda é considerado como o produtor dos pensamentos, o produtor das imagens, fala-se em impulsos elétricos e químicos que são transformados, de modo ainda desconhecido em idéias e crenças.
Que o cérebro tem um papel local no corpo não se discute. O que se pergunta é se apenas este papel local deve ser considerado, ou se, através do cérebro temos a capacidade de captar idéias, que de forma semelhante a entrada do ar na respiração, pela inspiração, também entram em nós, com o mesmo nome inclusive, numa alusão tácita a captação de idéias e conceitos do ar a nossa volta.
Indivíduo inspirado. É desse modo que nos referimos de maneira inconsciente das repercussões deste título, àqueles que demonstram a capacidade de manifestar de modo generoso um sem número de perspectivas e combinações originais de idéias, às vezes antigas, mas que, sob uma nova ótica ou viés apresentam novas cores, novas e interessantes facetas.
De onde vêm os pensamentos? De onde vêm as idéias para grandes romances, os grandes concertos e obras musicais? Os compositores alegam “ouvir” em suas cabeças a obra pronta, e quando se sentam para escrever apenas registram aquilo que já está em seus ouvidos mentais, não pedindo, mas exigindo manifestação.





Falei algumas semanas para minha filha que bons escritores na verdade são bons descritores e que o que fazem é apenas escrever acerca das imagens que já estão inteiras em suas mentes.
De onde vêm estas impressões, estas imagens claras e distintas que nos obrigam a manifestá-las pela letra, pelo som ou pelas tintas?
Neurologistas contemporâneos, com razão, torcerão o nariz para tais considerações. E sua razão estará no fato de que, racionalmente, não existem evidências de que exista outra fonte para nossas idéias a não ser o interior de nossos neurônios.
Lembro, no entanto, de Jean Jacques Rousseau ao dizer que se a razão vai contra o que sentimos de maneira intensa em nosso espírito, pior para a razão.
E eu sinto intensamente que essas coisas não são fantasias ou delírios e que, em algum momento, deveremos discutir a natureza dos pensamentos e do cérebro, como produtor ou como captador de idéias, o que modificaria por completo a noção que hoje defendemos de propriedade intelectual.
Hoje por exemplo, acordei com a mente em silêncio. Senti com extrema nitidez que as imagens não estavam em mim, que não passavam pelos meus olhos mentais, e que, se podemos dizer deste modo, havia um inquietante silêncio em minha inspiração.
Não sei quanto a outras pessoas, mas essa sensação me incomoda sobremaneira. É como se perdesse a conexão com meu provedor e através dele, com a Internet Cósmica.
E da mesma maneira que a Internet faz falta em nossa vida cotidiana, a conexão com a Mente Cósmica, pelo menos para mim, desfalca minha capacidade de trabalho e produção intelectual.
Gostaria de ter uma produção eminentemente horizontal, que versasse sobre assuntos cotidianos e facilmente reconhecíveis pelas pessoas que os lessem, como os trabalhos de um Nelson Rodrigues, o que ele chamava de o óbvio-onulante.
Minha sina, no entanto, é horizontalizar o que desaba sobre a minha mente de forma vertical, é dar forma escrita ao que surge em minha mente sem pedir permissão, não sempre, mas na grande maioria das vezes.
E quando por alguma razão, provavelmente por razões mais pessoais do que cósmicas, esta conexão é interrompida, mesmo que temporariamente, a sensação é de desconforto, e é como se faltasse uma perna ou um braço ao conjunto.
Acredito que outros se sintam desta forma, mas até Sergio comentar em sua fala no vídeo esta possibilidade, jamais tinha visto alguém, de forma tão corajosa, considerando as implicações e conseqüências para sua reputação profissional, falar sobre estas obviedades.
Vejamos se nas próximas décadas alguma coisa, algum evento, trará densidade para tais especulações.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O PODER DA ORAÇÃO E DA TEURGIA NOS PROBLEMAS COTIDIANOS



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

“Então veio Amaleque, e pelejou contra Israel em Refidim.
por isso disse Moisés a Josué: escolhe-nos homens,
e sai, peleja contra Amaleque; amanhã eu estarei sobre o cume do outeiro,
e a vara de deus estará na minha mão.
e fez Josué como Moisés lhe dissera, pelejando contra Amaleque;
 mas Moisés, Arão, e Hur subiram ao cume do outeiro.
e acontecia que, quando Moisés levantava a sua mão, Israel prevalecia;
 mas quando ele abaixava a sua mão, Amaleque prevalecia.
porém as mãos de Moisés eram pesadas, por isso tomaram uma pedra,
e a puseram debaixo dele, para assentar-se sobre ela;
 e Arão e Hur sustentaram as suas mãos, um de um lado e o outro do outro;
assim ficaram as suas mãos firmes até que o sol se pôs.
e assim Josué desfez a Amaleque e a seu povo, ao fio da espada.”
Êxodo 17, versículos 8 a 14


Este evento bíblico narrado no Livro do Êxodo, parte integrante da Torah, chama a atenção pela correlação direta que estabelece entre a prece, como ato teúrgico, e os acontecimentos da vida cotidiana.
Fala mais: sobre a influência da prece sobre a Guerra, talvez o evento mais dramático da sociedade humana depois da Morte.
Este é o espírito judaico. Esta é a noção da relação que o judeu estabelece entre seu Deus e a existência física na Terra.
“O que está em cima, está em baixo, e o que está embaixo está em cima” diz a Tábua de Esmeralda.
Prece e Vitória, nome da 7ª sephira, Netsach, já no nível do Mundo da Formação, Olam-ha-Yetsirá.
Prece que vem de Malchut, no Mundo da Ação, Olam-ha- Assiá, e que através de Iessód, a Sephira Fundação, passa por Hod, a Glória e chega a Netsach.
Já vi interpretações desta passagem como simbólica da luta espiritual.
Talvez. A mim fica claro que se trata da representação da relação entre a Oração e o Mundo da Ação, o Mundo das coisas materiais, aquelas que nos angustiam e nos afligem todos os dias.
Ligação entre o Invisível e o Visível, entre o Divino e o Humano, naquilo que o Mundo de Assiá tem de mais humano: nossas angústias materiais, nossos desafios imediatos, aqueles que desencadeiam sofrimento e demandam a intervenção de Deus de forma aparentemente miraculosa.
Mãos e braços ao alto. A pedra por debaixo. Pedra que fundamenta, que sustenta. 
Fundação.
Na cena Moisés representa a imagem da parte inferior da Árvore da Vida.

Vejo os simbolismos e as relações esotéricas com esplêndida clareza: pedra( Malchut); apoio, fundação,(Iessód); o braço direito em direção a Glória,(Hod); o braço esquerdo em direção a Vitória,(Netsach).
Existe também uma letra hebraica cuja forma lembra um homem sentado com os braços para cima em oração: Tzadik.
Observem:



E o que representa Tzadik? A Fé do Justo. Ela se assemelha a Alef. Tsade é a letra companheira de Alef, o Mestre do Universo.
Com a letra Tzadik começa a palavra Tzelem, a "Imagem Divina" segundo a qual Deus criou o homem.




Ela corresponde aos três níveis da alma: mente, coração e ação, enquanto as duas letras seguintes de tzelem, (lamed e mem) corresponde aos dois níveis transcendentes da alma, "o vivente"(chaiah) e "o único"(Yeshidá), respectivamente. Estes dois níveis se voltam conscientes, como dois estados de fé na percepção interna do Tzadik: fé na Luz transcendente de Deus, a máxima fonte de criação e na mesma essência de Deus, a máxima fonte de revelação da Torah.
Não se trata apenas de uma luta interna, ou das coisas sutis da psicologia; trata-se da vida, da luta pela sobrevivência diante de ameaças palpáveis, representadas na passagem por Amaleque, o Inimigo.
Aqui está uma verdadeira lição de Teurgia oculta na Torah.
Esta é a minha impressão.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

AOS MEUS LEITORES



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

Preciso da ajuda de vocês.
Primeiro quero deixar claro que este blog, embora primariamente um blog rosacruz, não representa a opinião oficial da Ordem e, desta forma, a responsabilidade de todas as postagens é absolutamente minha e de mais ninguém. Os projetos que são discutidos aqui dizem respeito a interesses e iniciativas pessoais e não estão vinculados, de qualquer maneira, à Grande Loja de Curitiba da AMORC.
Dito isto, que é praxe, vamos ao que importa.
Embora eu esteja na net Brasil há 15 anos, ou seja, desde que ela começou, e antes dela na BBS (Bouletin Board Sistem), não sou programador, e sempre que preciso recorro ao meu japonês da informática.
Só que agora preciso dar um salto qualitativo no Blog e para isso preciso de ajuda técnica e financeira.
Meus projetos são:
1.Criar uma conta de apoio ao meu Capítulo Rosacruz aqui de Suzano(acho que o nome é crowndfunding), carreando fundos para que eles possam terminar as suas intermináveis obras.
2. Criar uma conta de apoio ao blog com a qual eu possa melhorar as apresentações, transformando-o em trilíngue (Francês, Inglês e Português). Com o dinheiro das contribuições poderia pagar um tradutor on line, de forma que a tradução fosse mais confiável do que os tradutores instantâneos do Google que fazem uma salada demoníaca com as palavras e, claro, com os conceitos.


Claro que eu não sei como fazer isso.
Tem que haver um método seguro de arrecadação, de forma que o fundo de auxílio ao Capítulo, o qual não sabe de minhas intenções, seja absolutamente dirigido para ele, sem passar por mim. E, ao mesmo tempo, que possa concentrar muitas doações de baixo valor, como já se faz em boa parte do mundo. Se der certo pro Capítulo, tentarei a mesma coisa para a Heptada Martinista Guarulhos, que também não sabe desta minha intenção.
É isso.

Se alguém puder me ajudar com idéias e com sugestões aguardo seus comentários em mariosergio47@hotmail.com.
Grande abraço, paz profunda e obrigado.

domingo, 15 de maio de 2011

A QUESTÃO DO BEM E DO MAL



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:




Esta é uma questão espinhosa porque perpassa crenças e valores. E como a maioria dos cérebros tende a raciocinar pela lei de menor esforço, é difícil às vezes demonstrar que certas dualidades e oposições são enganosas e produto apenas da limitação de compreensão que nos caracteriza neste plano de manifestação.
A questão do Bem e do Mal é tradicional e atávica.
Todos têm alguma teoria sobre o tema.
No ensaio anterior (“NÃO EXISTE LIVRE ARBÍTRIO”), especulei sobre as concepções de Santo Agostinho, bispo de Hipona, que no seu trabalho intelectual tentou livrar Deus da acusação de ser responsável pelas coisas ruins da Vida.
O Homem, em sua imensa Vaidade, supõe que o Todo Poderoso necessita de sua proteção e não ao contrário, que nós precisemos de Deus em nossas vidas de maneira mais intensa e marcante.
Ora, meus amigos conhecem minha opinião sobre o assunto: Deus não é bom ou mal: Deus é Deus. Nesse aspecto, capaz de todas as coisas, responsável por tudo que existe, mesmo as coisas que achamos ruins, tanto quanto aquelas que achamos boas.



Sim, porque antes de discutirmos se Deus é o responsável pelo Mal é preciso discutir nossa particular idéia de Mal e de Bem. Nada é tão óbvio quanto parece.
A Demência Orgânica nas pessoas idosas é meu modelo filosófico.
Quem contempla um portador de Alzheimer, essa moléstia devastadora e frustrante para qualquer médico, julga ver um indivíduo em grande sofrimento. Na verdade, a Demência protege o Demente, de forma que quanto mais inconsciente ele estiver de sua situação, menos sofrimento experimentará.



É a consciência do mundo que possuímos (nós, pessoas não portadoras da mesma doença, capazes de emitir juízo de valor), que nos causa desconforto pela situação daquele que antes era uma pianista, ou um advogado e empresário bem sucedido e que agora não conseguem tomar banho ou alimentar-se sozinhos.
Aquele que não sabe o que está acontecendo não pode experimentar nenhum sofrimento pelo que não vê.
Portanto, como eu disse, a Demência protege o Demente. 
E o poupa da dor de se contemplar naquele estado. Sabe-se que o paciente em estado de Demência Orgânica, Alzheimer ou não, experimenta breves períodos de lucidez, as chamadas janelas de consciência, que progressivamente vão diminuindo até desaparecerem.
Nestes momentos, suponho, existe sofrimento. Mas então vem de novo o estado de incapacidade de compreensão e a dor desaparece, como em uma anestesia, que retira, em segundos, a dor.
Isto explica a subjetividade daquilo que chamamos de Mal quando testemunhamos um evento que julgamos ser nefasto.
Outra possibilidade, no entanto, é quando passamos por situações devastadoras, que testam nossa resistência moral e nosso equilíbrio psicológico, para usar um termo psiquiátrico, nosso grau de resiliência.
Aí, a bagagem filosófica e mesmo religiosa de um indivíduo é fundamental para que ele atravesse esses períodos difíceis com integridade.
Sofreremos, pois somos apenas homens e mulheres comuns. Só que se tivermos no íntimo a convicção de que o Universo não nos é hostil, que nada, por mais assustador que seja, visa o nosso prejuízo, talvez possamos atravessar nossas vicissitudes com mais resignação, se necessário, e com mais compreensão, se possível.
Ao contrário, aquele que se vê despido de qualquer formação interior para lidar com os dissabores, que supõe que a vida boa é aquela em que tudo é azul e indolor, e que o Universo bom é aquele que não nos causa nenhum desconforto, este está em uma situação no mínimo, psicologicamente desvantajosa.
Tudo acontece a todos, em toda a parte, e nenhum de nós tem alguma proteção mágica contra a Vida, em si.
Temos apenas nossa compreensão e nossos valores conosco e, em certas horas serão estas coisas tudo que teremos para nos sustentar.
E mais uma vez, o Invisível definirá o Visível.
Veremos o Mundo pela lente colorida que possuirmos.
Se vermelha, tudo será vermelho; se azul, tudo será azul; e se não tiver cor, veremos as coisas como elas são, sem cor, sem fundo musical, apenas coisas que acontecem, nada mais.
Existe um vídeo humorístico no You Tube chamado “O Pastor Ateu”, que como o nome diz, apresenta um culto com traços protestantes e fundamentalistas tão comuns nos EUA, onde o Pastor prega valores do ateísmo, sem nenhum pudor, para seus seguidores.
A parte mais divertida e mais filosófica do vídeo, no entanto é quando ele cita em sua pregação:
“As pessoas me perguntam por que coisas ruins acontecem com pessoas boas? E eu respondo dizendo que coisas boas também acontecem com pessoas ruins, e pessoas boas acontecem para coisas ruins, e às vezes, nada acontece às pessoas.”
É isso. As coisas, como Deus, não são boas ou más: são apenas coisas, fatos da vida. 
E creio, embora às vezes seja difícil saber por que, que todas têm apenas uma função: melhorar nossa consciência e ampliar nossa compreensão do mundo. 
Nada mais.

sábado, 14 de maio de 2011

NÃO EXISTE LIVRE ARBÍTRIO

Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Seguindo pensadores que não sabia à época que pensavam como eu, entre eles Espinosa e Schopenhauer, defendo esta tese para angústia de muitos de meus amigos que não suportam a idéia de falta de liberdade em suas decisões.
Esses amigos sempre me opõem o fato de que o Determinismo (que eles imaginam é a única opção ao Livre Arbítrio), tornaria a vida sem sentido e insípida. Não é bem assim. Estudo o assunto há alguns anos. Sei de outras alternativas a oposição Livre Arbítrio X Determinismo, como por exemplo o Compatibilismo[1], que como o nome diz tenta compatibilizar ambas as idéias. O Compatibilista pensa a liberdade como a ausência de coação externa e não a presença ou ausência de relação causa e efeito na decisão tomada. Até admitem que exista interligação entre tudo que acontece, mas  desde que no momento de tomar a decisão ninguém constranja o indivíduo, ela foi tomada livremente.
Interessante recurso intelectual mas não passa de um contorno da questão em si: pode existir uma decisão realmente livre?
Em minha humilde opinião, não.
Só que o Determinismo como foi proposto no passado é também uma definição insatisfatória.
No fundo minha teoria não é nenhuma das três citadas.
Minha tese pode ser chamada de Arbítrio Ponderado por Retroalimentação da Experiência (APRE), pois acredito na capacidade de arbítrio, embora não na sua liberdade.
É como na natureza, no funcionamento das glândulas e dos hormônios, só que aplicado ao fenômeno da escolha.


Nossas escolhas não podem prescindir da experiência, ou seja, da participação neurológica da memória e da evocação das informações que nos auxiliarão nas escolhas que faremos.
São estas lembranças, com as quais os fatos da existência nos alimentam, que tornam a nossa liberdade impossível, graças a Deus, pois elas nos permitem fazer a melhor escolha diante de nossas informações.
Quanto maior o nosso conhecimento e experiência mais prudente será nossa escolha, mas acertada nossa decisão, porque a memória nos trará a mente dados e mais dados que impedirão que repitamos, perdoem a vulgaridade da colocação, as mesmas bobagens do passado.

Não pode haver liberdade porque senão não haveria Evolução.
Justamente porque evoluímos e melhoramos nossa bagagem cultural, nossas decisões mudam, atreladas que são à nossas novas e antigas informações.
A cada informação, a cada conhecimento novo, somos retroalimentados com perspectivas que fundamentarão e direcionarão as nossas opções futuras.
Assim o futuro é bastante complexo pois está atrelado diretamente as decisões presentes, que irão nos direcionando, mais à esquerda, mais à direita, de acordo com a postura que tomemos no aqui e no agora.


Santo Agostinho


A idéia de liberdade está ligada a tentativa de Santo Agostinho de salvar a reputação do Todo Poderoso diante dos ataques dos Maniqueus, que argumentavam que existia o Mal e existia o Bem, e que o Universo era governado por duas forças antagônicas , duas divindades opostas que rivalizavam em poder.
Agostinho queria provar que: 1. Deus era Uno e 2. Deus não era e não poderia ser o autor do Mal já que Deus é só bondade.
Daí esta estratégia filosófica brilhante para a época, século IV, dizendo que Deus criou o Homem e lhe deu o Livre Arbítrio para que ele escolhesse e amadurecesse, e permitiu que escolhesse livremente entre o bem e o mal porque uma vez que lhe havia outorgado a Liberdade não a poderia retirar, tornando-se assim um Deus, paradoxalmente, não Onipotente.
A idéia de Agostinho era de que o erro era pecado sempre, e que o acerto era produto da graça de Deus.


Descartes


Tivemos que esperar 12 séculos, até que Renée Descartes dissesse que não havia pecado, mas Erro, e que o Erro não demandava perdão, mas correção.
Errar é normal. Repetir o erro é possível, já que às vezes o conhecimento não foi absorvido plenamente da primeira vez. Eventualmente, entretanto, o indivíduo perceberá, pelo desconforto ou pelo sofrimento, que suas opções estão incorretas e fará novas opções, que o colocarão em um novo rumo de causa e efeito.
Descartes disse certa vez que tudo que fazemos é em busca da felicidade. Também acho, só que poderia se dizer que mesmo nossos erros buscam esta mesma felicidade. Ao percebermos nosso equívoco, recuamos e enveredamos por outra via, que agora nos parece mais adequada e capaz de nos dar uma melhor qualidade de vida.
Agir, às vezes Errar, perceber o Erro, corrigir o Erro e Aperfeiçoar a Ação.
Esta é a equação da Evolução humana, que graças a Deus, não é livre, mas escrava de nosso Conhecimento pregresso e absolutamente determinada por nossa Cultura.



[1] O compatibilismo nada mais é que uma versão soft do determinismo, pois aceita a hipótese de que eventos (mentais e fisicos) são causados de modo necesssário e suficiente. No entanto, a noção de liberdade adotada é de ausencia de restrições ou coações e não de determinação causal. Compatibilistas podem definir o livre-arbítrio como emergindo de uma causa interior, por exemplo os pensamentos, as crenças e os desejos” 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-arb%C3%ADtrio#Teorias_compatibilistas_e_o_princ.C3.ADpio_poderia-ter-agido-de-outra-maneira