Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

terça-feira, 29 de outubro de 2013

TRÊS EM UM, A TRINDADE DE VIDEOS DO IMAGINARIODOMARIO, SOBRE AGRIPPA, O BARDO TODHOL E MIRCEA ELIADE.

Os três próximos vídeos são um só, que por deficiências ainda do editor não puderam ser transformados em um só. O YOUTUBE aceita, em princípio, apenas vídeos de no máximo 15 minutos, e a edição dos três criou um vídeo de 19 minutos. Por isso resolvi mandá-lo aos pedaços e colocar os três, com durações diferentes, em sequência. Devem ser vistos ( e não lidos como escrevi antes) de cima para baixo, A, depois B e depois C.







domingo, 27 de outubro de 2013

ESPIRITUALIDADE E HUMANIDADE

por Mario Sales, FRC,SI,CRC

"Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor."
Machado de Assis, em "Memórias Póstumas de Braz Cubas", capítulo 11.





Desconfio da sinceridade dos autoproclamados santos ou daqueles que vivem em estado de graça, como se seu alheamento ao mundo comum fosse prova de sua enorme sensibilidade. Já vi charlatães demais para não reconhecer um Mago Simão querendo passar-se por apóstolo ou tentando comprar a técnica do Pentecostes.
Mesmo o charlatão, no entanto, é consciente de sua charlatanice, embora suponha correto o ilusionismo que procura praticar. Pior não são os charlatães, mas aqueles que, supondo-se verdadeiramente pessoas iluminadas, creem-se para além do mundo comum, num exercício de delírio psiquiátrico, que demanda psicofarmacoterapia e não respeito.
Isto me incomoda porque as escolas esotéricas são vítimas deste tipo de frequentadores há muitos anos, aonde são tolerados, acolhidos, num misto de piedade e altruísmo. Só que as práticas esotéricas, mesmo livres dos procedimentos teatrais ocultistas, ainda se baseiam na transformação do mundo psicológico daquele que atravessa seus portais, e para isso recorre à técnica de Iniciação, a qual implica em burilar crenças e sentimentos pessoais, desconstruindo convicções, refazendo perspectivas, mexendo enfim com áreas profundas do subconsciente.
Se bem que hoje exista menor risco à sanidade das pessoas, estas abordagens são delicadas, devem ser prudentes, para que aquele que já não está adequadamente equilibrado não seja prejudicado psicologicamente por esta intervenção.
Alguns poderiam argumentar que não existe este risco, que os tempos são outros, que o ser humano moderno é mais culto e menos impressionável. Só que isso depende de qual ser humano estejamos falando.


Por isso, se alguém passa pelas primeiras iniciações, não quer dizer que passará pelas próximas. Se atravessa as colunas da maçonaria ou os portais simbólicos de AMORC ou do Martinismo, não quer dizer que está aprovado psiquiatricamente. Pode apenas ter atravessado a iniciação e mais nada, sem ter sido tocado em seu coração pelas transformações que se esperam de um iniciado, ao mesmo tempo que sua mente, já patologicamente alterada, não consegue se aperceber do que verdadeiramente ocorreu naquela cerimônia.
Outro problema dentro das escolas iniciáticas é o viés religioso. Alguns membros não conseguem distinguir o religioso do esotérico e místico.
Acreditam que para o místico, questões morais estão postas da mesma maneira que para aquele que faz parte de uma religião.
Por exemplo o místico, enquanto místico equilibrado, verdadeiramente tocado pela espiritualidade, não vê com nojo o seu corpo material, não crê que o macacão seja responsável pelos erros do operário, aliás sabe que não é assim. O moralismo anti material das religiões às vêzes atravessa os portões das três Ordens, junto com aqueles que os trazem em seu íntimo. Os maçons se reúnem em Loja, via de regra, para "combater a ignorância, os preconceitos e os erros", mas quão difícil é este combate. Rosacruzes se reúnem em Loja em busca da Paz Profunda, mas que paz é possível quando os olhos do chamado místico ou mística, vagam pelo ambiente do Corpo Afiliado criticando comportamentos como carolas em uma sacristia católica, ou preocupado com a vestimenta daquela irmã ou com a libido daquele irmão?
Esses são comportamentos que já acompanhei como oficial administrativo ou ritualístico ou ambos, como no caso do Mestrado, e que dizem respeito a idiosincrasias e valores de cada membro de AMORC e nada tem a ver com a AMORC em si. Não é nossa função julgar o comportamento de nenhum de nossos frateres e sorores fora do templo e nossa moralidade está determinada por nossa geografia, época e os costumes de nosso grupo social. Não são Universais, não são expressões de uma verdade internacional e transtemporal, são hábitos e crenças pessoais que não podem e não devem ser impostas à ninguém em um ambiente tolerante e democrático, se bem que até certo ponto, como deveriam ser os capítulos e Lojas Rosacruzes e as Heptadas Martinistas da TOM. Só a consciência de cada um é guardiã de sua dignidade e pode avaliar a retidão de seus atos. Entre as Lojas Maçônicas o fenômeno diminui pela inexistência de mulheres em ambientes ortodoxos, mas em Lojas Mistas, ainda não aceitas pela comunidade maçônica internacional, mas que são um fato em muitas regiões do mundo, o problema deve voltar a baila, se bem que sem o mesmo apelo pseudo religioso de Lojas muito mais místicas como as Lojas rosacruzes.
O que diferencia o bom místico do mau místico é a sensibilidade e a evolução espiritual, que se expressam não por uma atitude de superioridade fantasiosa, nem pela fantasia de uma santidade inexistente, que rompe os laços com o social, que isola o indivíduo do convívio, (o mais importante sinal da doença mental). Da mesma forma, misticismo não é a repulsa por aquilo que é mais sagrado em nós, como lembrava Spencer Lewis, nossos instintos, que por fazerem parte de nossa estrutura mais primitiva são produtos genuínamente divinos em sua natureza, e portanto, santos.
O ser humano normal, equilibrado, e com alguma chance de alcançar a santidade pode, como Noé após o dilúvio, embebedar-se, ou como Moisés, por insegurança e machismo, mandar aprisionar sua irmã, Miriam, amada por todos no Sinai; ou destruir, num acesso de ira, as barracas dos vendilhões do templo, como o Cristo, Jesus, o mesmo cujo primeiro milagre não foi em uma caverna, mas em uma festa de casamento, transformando água em vinho.
Seres humanos normais, santos ou não, são assim, como Machado de Assis tão bem colocou em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", ou como o Lótus Oriental representa no conjunto simbólico do Esoterismo:"Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor." Toda flor verdadeira e humana vem daí. Como os instintos, uma terra e um estrume santos, origem e fonte de toda Força, Sabedoria e Beleza do Universo.
Quem negar estas origens ou mente ou perdeu o senso da razão. Nenhuma das duas alternativas é boa e nenhuma recomenda um ser humano, um verdadeiro ser, humano.

sábado, 26 de outubro de 2013

TRADIÇÕES E MODELOS INTERPRETATIVOS

por Mario Sales, FRC,SI,CRC

Existe um fenômeno curioso quando nos deparamos com um dado conjunto de idéias. É da natureza da mente que tentemos apreender aquele conjunto através de nossos próprios modelos intelectuais e os conceitos que já dominamos surgem como elementos de comparação imediatos. Isto acontece até entre rosacruzes. Por não conhecerem devidamente o jargçao rosacruciano de AMORC bem como o elenco de conceitos próprios do rosacrucianismo moderno, preenchem os vazios com valores e conceitos de suas próprias escolas e religiões (espirtismo kardecista, catolicismo, denominações religiosas bíblicas fundamentalistas, etc ).
O que a história do pensamento mostrou, entretanto, que embora, senso comum, esta seja a atitude intelectual mais adequada, ela pode nos levar a erros de interpretação e a supor iguais duas grandezas diferentes.
Como se comparássemos um par determinado de frutas diversas, mas em mesmo número.
Apesar da singeleza da imagem, imaginemos 20 melancias e 20 laranjas. Óbvio que se tratam de 20 unidades de coisas diversas, em número igual, mas com proporções absolutamente distintas.
Nem sempre entretanto, o tamanho nos auxilia. Ou a cor. Como no caso de 20 tangerinas e 20 laranjas. Ambas amarelas, ambas com esfericidade, se bem que uma mais esférica que a outra. Temos assim duas contagens de objetos diferentes, de mesmo número, aproximadamente mesma aparência, cuja diferença íntima só será percebida quando provarmos uma e outra fruta. Tradições diferentes são mais ou menos assim.
Quando partimos do pressuposto de que , sim, todas as tradições esotéricas ou místicas têm uma origem comum, ao lermos os textos próprios de cada uma, buscamos, ato contínuo e quase automático, as semelhanças entre elas e, após esta buscas, comparamos as semelhanças encontradas e supomos que, ao encontrá-las, encontramos também o que está por trás de ambas.
Na verdade, isto não funciona assim, e embora seja correto supor que os galhos de uma árvore tem a mesma raiz, nem um galho é o outro, e nenhum dêles tem a mesma forma da raiz que lhes garantiu e garante existência.
Compreender e conhecer aquele galho é tocá-lo, olhá-lo, estudar como sua forma se projeta peculiarmente, no espaço em volta do tronco.
Mesmo que estejam na mesma direção em lados opostos do tronco, um galho vai em um sentido e o outro no sentido inverso.
É preciso, pois, conhecer cada galho para visualizar a árvore. Este tipo de raciocínio é o mais antigo da humanidade, e em lógica é chamado de raciocínio indutivo, que parte do particular para o geral.
Não que estejamos totalmente errados em nossas ilações a partir das informações que trabalhamos, mas elas, com certeza, não nos darão um quadro fiel do objeto estudado, e as distorções podem ser cumulativas e, lá na frente, podem gerar deformações bem mais robustas.
Para evitar tais deformações, os pensadores que se dedicaram aos métodos de bem interpretar textos ou experiências se voltaram, não só para os textos em si, mas principalmente, para a atitude mental de quem os lê e os estuda.
Estas considerações me vem à cabeça agora que estudo às quartas a noite, com Flávio, a Doutrina Esotérica como entendida pela Sociedade Teosófica e , na sexta, lemos, eu Falvio e Wilson Hackmey, todos dois da Heptada Martinista Guarulhos, o "Tratado da Reintegração dos Seres", de Martinez de Pasqually.
São dois textos diferentes, claro, mas além disto, são produtos de dois contextos de época diversos e bem peculiares. Não só abordam a tradição esotérica sob pontos de vista de duas épocas diversas como utilizam uma estratégia de narração própria de cada um.
O projeto de Blavatsky, agora já posso comentar, tem a ambição de ser uma narrativa de, no seu entender, fatos, desconhecidos do público em geral, que dizem respeito a épocas que a ciência, seja na Antropologia, seja na Arqueologia, ainda não mapeou. Fala de realidades invisíveis à grande maioria das pessoas comuns, de um livro que ninguém viu, que ninguém leu, e o interpreta com a seriedade de um exegeta ortodoxo. O curioso é que, sem o apoio da nona sephira, Yesod, a Fundação, Blavatsky todo o tempo ataca a ciência da época chamando-a de falha, imprecisa e incompleta. Isto tudo no final do século XIX.
O outro texto diz respeito ao ambiente simbólico. Não se narram fatos, mas sim mitos com forte conteúdo simbólico, de tal forma que é difícil destrinchar o que é apenas representação e o que refere-se a, se podemos chamar assim, "fatos históricos". Não existe inclusive a preocupação de fazer a devida separação entre uma coisa e outra. Marttinez é impiedoso, o que torna seu texto impiedosamente obscuro, só perdendo para os textos de Jacob Boheme.
Dois ambientes tão diversos não deveriam ser comparados impunemente, mas noto em todos, inclusive em mim mesmo, uma ânsia comparativa, uma tentativa de ver semelhanças nas informações díspares de um e outro ambiente.
Embora eu entenda esta ansiedade, penso que seja temerária. Por puro treinamento filosófico, sei a imensa capacidade da mente desarmada de pregar peças no exegeta, de forma que procuro ser mais prudente em relação a tentativa de compreender uma ou outra tradição a partir da lente de um ou de outro ambiente.
O mais prudente, já diziam os Hermeneutas[1] alemãs, uma área que teve grande destaque na filosofia do século XX, Hans Gadamer e Jürgen Habbermas, é tentar compreender cada texto, cada ambiente, a partir dos pressupostos e postulados de cada uma.
Manda a boa ciência interpretativa que, se formos fazer comparações entre ambos os domínios, tenhamos mais conhecimento de um e de outro, tenhamos provado a tangerina e a laranja tantas vêzes que já reconheçamos com facilidade seu sabor.
Não há como interpretar com fidelidade um texto se tentamos lê-lo segundo aquilo que sabemos do mundo e das coisas. Para cada texto existe um con-texto, que deve ser conhecido e levado em conta durante a leitura e a interpretação que desenvolvemos.
Nos textos de Pasqually, alguns conceitos são recorrentes: a queda adâmica, a noção de pecado original, de confissões de culpa libertadoras, e do chamado "livre arbítrio", conceito criado por Agostinho de Hipona. Fala-se de anjos rebeldes, de crimes contra Deus e das punições a partir de prisões, que lembram as práticas da cavalaria do século XVIII, da Justiça do século XVIII, com corpos que são prisões, e de uma outra enorme prisão, o EIXO FOGO CENTRAL INCRIADO, que retém dentro de si homens e anjos, ambos caídos.
Fala muito também sobre o Cristo, tanto na pessoa de Jesus como na de Helly, um personagem trazido a luz por ele. Centra muito de suas reflexões neste personagem, entendido por ele como o ponto central da ampulheta da criação, ponto mais estreito por onde flui a areia da vida, de cima para baixo ou de baixo para cima quando invertida.
Blavatsky por sua vez toca no Cristo de modo eventual e concentra seu trabalho em comparações de tradições as mais variadas, na defesa de sua tese de que a Tradição tem origem comum. Compara as mitologias, os deuses de cada panteão, foca em textos da Tradição Hindu, os Vedas, principalmente Rig e Atharva Veda, os Upanishad, o Gita. Se citou a queda ou os Anjos, foi "en passant". Concentra-se mais na tentativa de dar caráter de cientificidade aos seus escritos, ora clamando pela Ciência da época, já superada, para apoiá-la em suas afirmações, ora atacando esta mesma ciência como incapaz de ver o que ela vê.
Embora eu seja um esoterista e estudante das tradições, não me atreveria, repito, devido ao meu treinamento intelectual, a tentar validar qualquer discurso simbólico ou mitológico cientificamente. Simplesmente porque Mito não é Ciência, o que não o torna um saber menor , mas apenas diferente.
São frutas diferentes, aqui, particularmente, muito diferentes.
Da mesma forma, TEOSOFIA não é MARTINISMO.
É preciso ler TEOSOFIA em um contexto teosófico, E DEPOIS ler MARTINISMO, de Marttinez de Pasqually, em um contexto Martinista, dos Ellus Cohen, e nunca, nunca ceder a tentação em que Blavatsky caiu, de tentar encontrar na Ciência algo que respalde seu discurso e sua narrativa, ou de tentar entender a TEOSOFIA pelo MARTINISMO, ou vice versa.
Não há ciência, aliás, no seu significado contemporâneo mais ortodoxo, em nenhuma das tradições. São narrativas, muito envolventes e simbólicas, mas carecem de demonstrações ou de fatos na acepção verdadeira do termo, que as corroborem.
Mesmo o invisível, em Ciência, é mensurável ou previsível matematicamente. O que não acontece nem com as afirmações de Pasqually e muito menos com as de Blavatsky.
Deixemos portanto a cada território as suas leis e seus costumes. Seria um desrespeito a um cientista profissional, ou mesmo a um ser humano cético e racional, tentar convencê-lo da veracidade dos fatos narrados em uma ou outra tradição. Da mesma forma que a Ciência não explica ou fundamenta a Tradição Esotérica, também não podemos explicar o Martinismo pela Teosofia, nem a Teosofia pelo Martinismo. Na minha opinião, que divido com Flavio e com Wilson Hackmey neste post, devemos resistir corajosamente a vontade de tentar validar um contexto por outro.
Não estudamos a Tradição porque ela é verossímil, mas sim porque cremos e nos identificamos com suas afirmações. Se vemos importância no estudo destes textos, vemos por que somos esoteristas e não porque são textos científicos ou comprovados ou passíveis de comprovação. 
Tal discussão , se o que ela (HPB) e ele (Marttinez) afirmam são fatos, é descabida neste trabalho. 
O que buscamos, e o que Blavatsky e os que a lêem bem como os que lêem Pasqually deveriam buscar, é inspiração espiritual e material de reflexão interior, e não fatos comprováveis.
Repito, Esoterismo não é ciência. É outra coisa, outra área de conhecimento, outro saber. Vive e respira com suas próprias leis e pulmões e não precisa de nenhum a validação externa científica, como parece ser a obsessão de muitos esoteristas inclusive Blavatsky.
Na minha opinião, a melhor estratégia é ler o texto, seja teosófico ou martinista, com a atitude chamada fenomenológica, de Edmund Husserl[2], mantendo entre aspas as coisas que supomos ser a interpretação correta, até que surjam novos e esclarecedores elementos históricos e bibliográficos. No caso de Blavatsky, ler a própria Doutrina Secreta, o resumo da Doutrina feito por Michael Gomes, os textos de Leadbeater e Annie Besant e de modernos teósofos que tenham feito esta transição de épocas e que nos facilitem a compreensão dos conceitos chaves do contexto teosófico.
E no caso de Pasqually, a mesma coisa, atentos a contribuição de modernos esoteristas como Robert Amadou e Robert Ambelain, do qual recomendo seu estudo sobre Martinismo disponível em português no endereço http://www.sca.org.br/news/438/57/O-Martinismo-Historia-e-Doutrina-Robert-Ambelain.html do site da Sociedade de Ciências Antigas. É maravilhosamente erudito e profundo, uma leitura embora densa, agradável e muito esclarecedora dos fundamentos do pensamento Martinezista.
Portanto, a partir deste reforço, estudemos cada ambiente com suas características, tangerinas com tangerinas, laranjas com laranjas. E deixemos a melancia da ciência de lado, já que nada, mais nada pode ser mais contraproducente e inadequado do que tentar achar provas do que é im-provável, já que habita no mundo do Mito e do Invisível para a maioria dos seres comuns, não iluminados, como nós três.





[1] Hermenêutica é um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode referir-se tanto à arte da interpretação, ou a teoria e treino de interpretação. A hermenêutica tradicional - que inclui hermenêutica Bíblica - se refere ao estudo da interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e direito. A hermenêutica moderna, ou contemporânea, engloba não somente textos escritos, mas também tudo que há no processo interpretativo. Isso inclui formas verbais e não-verbais de comunicação, assim como aspectos que afetam a comunicação, como proposições, pressupostos, o significado e a filosofia da linguagem, e a semiótica. A hermenêutica filosófica refere-se principalmente à teoria do conhecimento de Hans-Georg Gadamer como desenvolvida em sua obra "Verdade e Método" (Wahrheit und Methode), e algumas vezes a Paul Ricoeur. Consistência hermenêutica refere-se à análise de textos para explicação coerente. Uma hermenêutica (singular) refere-se a um método ou vertente de interpretação.
[2] Fenomenologia (do grego phainesthai - aquilo que se apresenta ou que se mostra - e logos - explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação". Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema).
Edmund Husserl (1859-1938) - filósofo, matemático e lógico – o fundador desse método de investigação filosófica e estabeleceu os principais conceitos e métodos que seriam amplamente usados pelos filósofos desta tradição. Ele, influenciado por Franz Bretano - seu mestre - lutou contra o historicismo e o psicologismo. Idealizou um recomeço para a filosofia como uma investigação subjetiva e rigorosa que se iniciaria com os estudos dos fenômenos como aparentam a mente para encontrar as verdades da razão. Suas investigações lógicas influenciaram até mesmo os filósofos e matemáticos da mais forte corrente oposta, o empirismo lógico. A Fenomenologia representou uma reação à eliminação da metafísica, pretensão de grande parte dos filósofos e cientistas do século XIX.
Husserl foi professor em Gotinga e Friburgo em Brisgóvia, e autor de “Ficar Sem Estudar" em 1906 . Contrariamente a todas as tendências no mundo intelectual de sua época, quis que a filosofia tivesse as bases e condições de uma ciência rigorosa. Porém, como dar rigor ao raciocínio filosófico em relação a coisas tão variáveis como as coisas do mundo real?
O êxito do método científico está no estabelecimento de uma "verdade provisória" útil, que será verdade até que um fato novo mostre outra realidade. Para evitar que a verdade filosófica também fosse provisória Husserl propõe que ela deveria referir-se às coisas como se apresentam na experiência de consciência, estudadas em suas essências, em seus verdadeiros significados, de um modo livre de teorias e pressuposições, despidas dos acidentes próprios do mundo real, do mundo empírico objeto da ciência. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

INTERNET E ROSACRUCIANISMO NO SÉCULO XXI

por Mario Sales, FRC,SI,CRC





Em 6 de dezembro de 2012, portanto apenas alguns meses atrás, publiquei um post, triste, intitulado "O Fim da Teia de Indra", aonde relatava que a pedido do Grande Mestre da AMORC para Língua Portuguesa, Frater Helio de Moraes Marques, eu encerrava as poucas e curtas atividades do primeiro blog dedicado aos Artesãos da AMORC neste país e em países que comungassem o mesmo idioma. Sendo um blog wordpress, contava com o recurso de publicação sigilosa de forma que só quem recebesse a senha de acesso poderia participar das discussões e ler a maior parte das publicações, as quais poderiam ter caráter privado.
Oferecido ao GM Helio de Moraes como um canal direto para o mesmo, aonde ele poderia acompanhar as conversas entre artesãos ou seus pleitos, de forma direta e confortável, já que poderia acessar o blog, com a senha, de qualquer parte do mundo e no horário mais conveniente, entendeu o mesmo (soube mais tarde, por terceiros), erroneamente, que se tratava de um site de troca de informações no qual responderia emails de artesãos de várias regiões, o que a seu ver seria impossível.
Eu não sabia ter sido essa a sua impressão pois na carta de resposta esse aspecto não estava explicitado. Apenas alegando que a AMORC estava preparando um site oficial, segundo ele, pedia-me que encerrasse as atividades do site para que toda a atividade de internet pudesse ser concentrada em um único local.
Na hora que li essas linhas, fora a constatação de que o GM não havia entendido a mecânica nem o alcance da iniciativa, minha sensação foi de intensa frustração e ao mesmo tempo, (rato de internet que sou desde antes do surgimento do www [world wide web]), de intensa perplexidade, pois um tal propósito, concentrar por força de lei ou determinação de alguém todas as atividades de uma comunidade gigantesca de rosacruzes em todo o país e além mar, em um único local, eu já sabia, e qualquer pessoa que conhece a Internet sabe, seria como querer segurar o vento com as mãos.
Nada é mais anárquico que a Internet, nenhum ambiente é mais selvagem ou mais rebelde a qualquer tipo de organização piramidal, de cima para baixo.
Talvez este tipo de pensamento funcionasse no final do século XX, mas não faz nenhum sentido no século XXI.
Só que é difícil ou mesmo impossível argumentar com autoridades, só é possível argumentar com irmãos e iguais, membros de uma fraternidade.
Disciplinadamente, portanto, respondi dizendo que como era o desejo do GM, assim seria feito. Fechei o site e comuniquei via blog, a quem interessasse, o ocorrido e a razão.
Hoje, está instituído no Facebook um site, dito oficial, da Grande Loja de Língua Portuguesa, que deveria , como disse o GM, concentrar toda a atividade de internet da AMORC.
E o que ocorre? Enquanto a Teia de Indra, feita para Artesãos, foi fechada, proliferaram um sem número de grupos e comunidades semi-fechadas de rosacruzes em Minas Gerais, Bahia, São Paulo. Além disso, cada corpo afiliado fez a sua própria página no Facebook, não como apêndice do site da Grande Loja, mas por iniciativa própria, constituindo uma atividade livre, independente das amarras burocráticas, fato comum neste século informatizado.
A Teia de Indra, percebo, morreu inutilmente. Agora, graças a minha atitude de respeito ao GM, nem os artesãos tem um site para chamar de seu, nem a Grande Loja concentra, nem a octogésima parte da atividade amorquiana na internet, já que comentei dos muitos sites de apenas uma rede social, sem citar os milhares de blogs rosacruzes de membros de AMORC por todo o mundo de Língua Portuguesa entre outras línguas, entre eles este , o "Imaginario do Mario", e o blog "Rosacruzes", do meu amigo virtual e frater Marcos Guimarães, de Curitiba, com o impressionante número de 906 seguidores.
Sou um artesão e jurei lealdade ao GM.
Percebo, no entanto, que minha lealdade chega a ser ingênua. E se digo isso, baseio-me em um dos sites do próprio Facebook que estava já em funcionamento quando esta instrução descabida e obsoleta de fechar todos os sites com a denominação rosacruz chegou aos membros da fraternidade. O responsável por este espaço, disciplinadamente , aquiesceu e fechou seu espaço, para reabri-lo, ato contínuo, em outro domínio, para o qual migrou todos as nove centenas de rosacruzes e simpatizantes que já estavam no site anterior.
Vejo agora que eu poderia ter feito algo parecido. Ou não. Sou um rosacruz antigo, daqueles que acreditam no juramento feito em templo, a luz de velas e com o cheiro da rosa musgosa entrando pelas narinas; mas, ao saber deste episódio de sagacidade macunaímica, que em si não trouxe maiores consequências para seu autor, o qual preservou, assim, sabiamente, um importante canal virtual de diálogo entre membros da fraternidade e simpatizantes, vejo a banalidade e o prejuízo de muitas das regras e recomendações oficiais acerca de procedimentos coletivos da fraternidade, que uma administração de gabinete, e me perdoem a franqueza, de pouca visão quanto ao momento histórico da sociedade, pode causar.
Muitos artesãos lêem este blog. Gostaria que comentassem este post. Cumprimos, do jeito que as coisas estão, a missão prescrita por Spencer Lewis, de divulgar de todas as formas e maneiras a Luz da Rosacruz? E os jovens rosacruzes que me lêem, me digam: é possível imaginar alguma forma eficiente e aceitável de regular a liberdade de expressão rosacruciana legítima das pessoas na Internet? Não seria isto apenas uma forma de tentar deter o fluxo dos oceanos com os dedos da mão? 

A Fraternidade vive novos tempos. Precisamos repensar o modus operandi para o século XXI. Para o bem de AMORC e da causa da expansão da Luz Rosacruz e Martinista.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

EVOLUÇÃO E SOLIDÃO

por Mario Sales,FRC, SI, CRC




Hoje, dia dos Mestres, resolvi registrar a solidão de cada um no seu crescimento pessoal e intelectual.O processo de aperfeiçoamento da qualidade mental e espiritual de um indivíduo depende unicamente de seu próprio esforço, solitário e obstinado.
E qual o papel dos Mestres, sejam os mestres intelectuais ou os espirituais, ou ambos? Não terão importância na formação de seus discípulos?
Sim, tem importância, mas na mesma proporção que um técnico e um atleta que se especializa em uma corrida de 100 metros com obstáculos.
Ele pode orientá-lo, dar-lhe explicações de como fazer mais e melhor, mas os músculos só obedecerão ao seu dono, só se adaptarão ao ritmo e ao esforço daquele ao qual elas pertencem.
Nenhum atleta corre com as pernas de seu Mestre, de seu treinador. Seu esforço e seu suor são seus, e de mais ninguém.

Seu cansaço, sua respiração ofegante, seus dedos crispados, seus punhos cerrados, seus olhos fixos nos obstáculos a serem ultrapassados, são seus, apenas seus.Seu Mestre, seu técnico, pode no máximo sentar-se na arquibancada, no dia da competição, e torcer, como torcem por nós todos os que investiram em nós seu tempo e seu amor, além de rezar para que tudo, absolutamente tudo corra de acordo com os treinos e com o esforço gasto na preparação.
E principalmente, já que é uma competição, que nenhum outro Discípulo tenha se esforçado mais que o seu, bem como nenhum Mestre tenha estimulado mais e melhor seu discípulo do que ele o fez.
Muitas vêzes, quando graves problemas nos afetam, perguntamos confusos aonde estão as intervenções dos Mestres que como iniciados aprendemos a respeitar. Não entendemos porque , embora estejamos em sintonia com êles, nossos problemas e crises continuem iguais àqueles de antes da iniciação, já que supúnhamos que a iniciação em si nos libertasse das dificuldades comezinhas do cotidiano.
Tudo isto encerra uma compreensão errônea do papel dos Mestres e dos direitos e deveres do Discípulo.
Em sua inevitável solidão e responsabilidade pessoal, todo Discípulo tem o direito de Viver de forma intensa e passar por tudo aquilo que mesmo um um não iniciado passaria e tem o Dever de se manter sereno diante das adversidades, como foi treinado por seus ensinamentos intelectuais e espirituais.
Em contrapartida, todo Mestre tem o direito de Amar seu discípulo e, amando-o, orar por ele a Deus, em todos os momentos, pedindo que sua Fé não esmoreça, que sua conexão com o Altíssimo permaneça firme e clara e com isso sua intuição seja, todo o tempo, alimentada pela Inspiração Divina, da mesma forma que, como Mestre, tem o dever de jamais interferir nos exercícios existenciais que seu Discípulo atravesse, de forma a não perturbar o esforço e a concentração deste Discípulo e retardar sua evolução.
Todo bom Mestre conhece e confia em seu Discípulo, tanto quanto confia em si mesmo e em Deus Todo Poderoso.
Portanto, como prova de Confiança, ele permite que aqueles que treinou e orientou caminhem com as próprias pernas, sem se tornar nem uma muleta, nem um outro obstáculo entre tantos obstáculos que, só pelo fato de estar vivo, aquele Discípulo, aquele Indivíduo, já terá que superar.
Amar é permitir que o Ser Amado cresça em Liberdade e Desempenho, e saber que, se não for capaz de crescer sozinho, não conseguirá crescer de modo algum.
Evolução e Solidão são dois lados inseparáveis da Moeda da Vida.
Não existe outra forma de compreender a Existência e sua mecânica interna.

sábado, 12 de outubro de 2013

BLOG DA GRANDE LOJA DE ESPANHA

VISITEM O BLOG DA GRANDE LOJA DE ESPANHA, QUE, AO CONTRÁRIO DA NOSSA, USA A INTERNET SEM CULPA.


www.ordenrosacruz.es

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

CARLOS RUAS: QUER QUE DESENHE? VERTENTES RELIGIOSAS.

Sejam tolerantes com uns poucos erros históricos e vejam a beleza por trás do trabalho deste novo e promissor cartunista , profundamente preocupado com aspectos ligados a religiosidade e suas implicações na vida social.
O seu site chama-se: "Um sábado qualquer" e pode ser acessado, com este nome, no Facebook.




PREPARANDO UMA SURPRESA PARA VOCÊS, NOS PRÓXIMOS DIAS. ESPERO QUE GOSTEM.

O RESUMO DA DOUTRINA SECRETA DE MICHAEL GOMES

por Mario Sales, FRC,SI,CRC





A Doutrina Secreta, Ed Pensamento, tradução de Raymundo Mendes Sobral,1973, VOL 1 de 6 outros, página 146:
“4. Este foi o Exército da Voz, a Divina Mãe dos Sete. (...).
(a) (...) O Exército da Voz é uma denominação que se acha intimamente relacionada com o mistério do Som e da Linguagem, como efeito e corolário da Causa: o Pensamento Divino.”
E então surge a expressão: “Como tão bem o expressou P.Christian...” e daí em diante teremos 3 páginas discutindo o Som e a Linguagem em diversas culturas.
A Doutrina Secreta, Ed Pensamento, resumida e comentada por Michael Gomes, tradução de Marta Rosas,2012, volume único, página 54:
“4. Este foi o Exército da Voz, a Divina Mãe dos Sete. (...).
(a) (...) O Exército da Voz é uma denominação que se acha intimamente relacionada com o mistério do Som e da Linguagem, como efeito e corolário da Causa: o Pensamento Divino.”
E só. Mais nada. Só a Estância 4 , seu comentário, sem outras ilustrações.
Texto enxuto, simples e acessível. Uma beleza.
Para quem vem como eu sofrendo com as derivações de raciocínio presentes ao longo da volumosa obra de Madame (como pede meu querido Frater Amadeu) HPB, ler o texto sintético e despojado de Michael Gomes é um alento.
Aproveitarei as férias de Frater Flavio, em viagem, para continuar as comparações, mas não resistirei a adiantar a leitura que me dará uma compreensão muito mais rápida e objetiva do texto que nos propusemos a estudar.
O trabalho de Michael Gomes torna acessível, sem prejuízo perceptível, a perpetuação do conhecimento blavatskiano a gerações mais objetivas do que aquelas do século XIX. E isto é muito importante.
Seja por que ângulo for, gostando ou não de seus conceitos, crendo ou não em suas afirmações, textos como os de Madame (como pede meu querido Frater Amadeu) HPB não podem ser ignorados, e nem devem ser comentados sem que sejam lidos, como acontece frequentemente no meio esotérico ou social de modo geral. O hábito de especular sobre o que não se leu ou sobre o que não se conhece corrói a seriedade de um bom debate, de uma boa troca de informações.
Como lembrava brilhantemente Friederich Nietzsche, devemos ler como as vacas, ruminando a informação, regurgitando-a e mastigando-a repetidas vezes, mais ou menos como na leitura de textos por demais inspirados e obscuros como os de Jacob Bhoeme.
Recomendo enfaticamente que quem se interessa por Teosofia não se familiarize apenas com o texto original, mas que tenha em mãos o resumo recém publicado de Michael Gomes. Sua utilidade é indiscutível, embora não substitua a leitura do texto principal que ele sintetiza.
Todo grande texto, da Bíblia até os Vedas, tem recantos, becos e vielas que quando percorridas podem nos mostrar pequenos tesouros de profundo valor sentimental e místico.
Assim, mesmo que o texto de Gomes seja um primor como síntese, não diminui a importância de lidar com o terrível texto de 1973,(como nenhum resumo diminui a importância do original sintetizado), que continuarei a debulhar, sistematicamente, após o retorno de Frater Flavio, o Teósofo.