Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 26 de maio de 2017

FIGURA DIVINA, UM SÍMBOLO ALQUIMICO: Va PARTE


por Mario Sales


2º SUB SÍMBOLO: A ESTRELA DE SEIS PONTAS OU A BOCA DO FIAT


É deste Deus onipresente e Onipotente que provém o Ato Criador, manifestado pela Graça. Aqui no símbolo Ele é chamado de Luz da Graça.


A estrela, com textos em inglês.

Já na estrela de seis pontas, símbolo do encontro entre o que vem de cima com o que está embaixo, a graça criadora se manifesta sempre como Luz da Graça, atributo da Eterna Invisível (e) Celestial Santíssima Trindade, frase escrita ao alto da estrela, em dois trechos, um a direita e outro a esquerda; esta Luz da Graça ou LUMEN GRATIAE oculta-se no segmento triangular que tem o vértice para cima, ao alto, protegendo ao centro o Verbo, a palavra (WORD), o som da criação, que os Hindus chamam de Om, e no Ocidente é conhecido pelo comando divino “Faça-se”, FIAT, em Latim. É importante ressaltar que na cultura cristã o próprio Jesus é o Verbo, manifestação de Deus na carne. No extremo inferior direito, encontramos o Espírito Santo e no extremo inferior esquerdo uma palavra ilegível em português na edição da Renes, mas não em alemão (VATER= PAI).
O outro triangulo que se entrelaça com este tem as palavras espírito a esquerda, ao alto; Deus, à direita, ao alto; e filho, abaixo, tocando a parte mais inferior da estrela, sendo que ao centro existe um interessante comentário lembrando que “a eternidade produz o tempo da natureza”.
Esta é uma frase poderosa que dá margem a muitas especulações.
Primeiro, a noção de que o tempo linear, que fundamenta nossa noção de história, é um, e apenas um segmento do eterno, como falamos que um terreno é um pequeno pedaço do espaço, ou que um segmento do círculo é apenas uma parte deste círculo, e que parece linear e reto apenas por que o círculo, imenso, tem um ângulo extremamente suave, que nos parece uma linha plana, ocultando sua condição de curva que ascende para depois cair.
O Eterno não tem limitações, mas o tempo linear tem. Mesmo que falemos em milênios, em determinado momento esses milênios, e este trecho da eternidade que é nossa história, se encerrarão, enquanto que o eterno permanecerá, impávido.
Impressionante.
Nota-se ainda que no desenho, deste círculo interno à estrela saem duas linhas que delimitam a ponta alta de um losango linhas estas que dirigem-se para baixo, especificando na imagem que o efeito da criação, do tempo e dos ciclos naturais e estações vêm, todos, do eterno, e se referem a um movimento do alto para baixo, um ato de criação e de interferência da chamada Criação, dando-lhe características próprias de temporalidade.
Esta reflexão não é original e foi lindamente representada no quadro “O Ancião dos Dias”, de Willian Blake. Estas linhas transcendem a parte inferior da estrela e vão abarcar todos os desenhos abaixo da estrela, demonstrando que tudo abaixo da estrela está contido no que hoje chamamos de espaço tempo determinado pelo Altíssimo.
Tanto a estrela exemplifica o ato criativo divino que em quatro de suas pontas a direita e a esquerda vemos as letras da palavra FIAT, o FAÇA-SE que tornou tudo que existe, real.






The Ancient of Days, de Willian Blake. Observem que da mão esquerda, a mão cardíaca, brotam raios de luz em um ângulo correspondente a alto de um losango. Os dois raios podem também simbolizar a natureza dual do mundo criado.



Ao Lado da estrela de seis pontas existem ainda alusões ao aspecto da temporalidade, e sua relação com a sua mãe, a eternidade, ou atemporalidade.
A frase é: “Nada mais é, nada mais foi, nada mais será jamais, na eternidade e no tempo. ”
É uma declaração assombrosa que reforça o que já tinha sido dito “ a eternidade produz o tempo da natureza”; é dessa inexistência de instantes, de durações, se Henri Bérgson nos permitir, que se constitui o que é eterno. A ausência de tempo é a ausência de movimento. O eterno é imóvel.
A criação não se desenvolve porque a roda não começou ainda a girar. É apenas quando um pedaço do eterno é arrancado e gira no espaço vazio que temos o movimento chamado tempo linear. Para Deus, um instante, semelhante aquele da gota que se eleva momentaneamente do lago para depois a ele retornar, como um soluço. Para nós, neste salto efêmero da gota, passaram-se milhões de instantes, de civilizações, de emoções. Nós existimos na natureza, dentro de seus ritmos, dentro desta fugidia gota; de fato, é “ a eternidade (que) produz o tempo da natureza”.
Mais então o que é eterno se torna limitado e passamos a níveis aonde a velocidade do fluxo da existência vai diminuindo e as coisas parecem mais sólidas e mais densas.
Estamos entrando no nível inferior da estrela, aonde, está escrito, estamos no campo do “Temporal visível terrestre” da “Santíssima Trindade”, colocando de outra forma, aonde A Trindade se manifesta na matéria.
Não é a toa que a ponta da estrela para baixo que penetra neste campo mais material tem dentro dela o nome do Filho, acompanhado do Fiat. O Filho está representando a manifestação da vontade (FAÇA-SE) de Deus, dando-se a conhecer aqueles que precisavam da experiência de testemunhar um Avatar, alguém que vive no tempo do Eterno, alguém que transcende a Morte, e que embora nascido de mulher, é puro espírito.

ESQUEMA 8


Abaixo da estrela está escrito “E Deus disse: ” e mais nada, como se para enfatizar que o que importa é que ele tenha pronunciado alguma coisa, o som que dá origem a criação agora material, o som do princípio.

sábado, 20 de maio de 2017

DESAFIO

por  Mario Sales

Aos leitores

Gostaria de pedir o auxílio de vocês. Embora existam prontas já 11 partes para serem publicadas, a interpretação do grande símbolo está praticamente encerrada, pois já entrei em sua fase final, mas dois obstáculos impedem esse encerramento. São imagens impossíveis de identificar, seja pela má qualidade e péssima nitidez, seja pelo hermetismo que possuem.
A primeira é a que está abaixo que se refere ao Sal Philosophorum. A unica coisa que consegui foi estabelecer que por trás desta cortina branca, seja de um vapor que sobe, ou de água que cai, existe uma torre.



Minha intenção era fazer esta interpretação sem recorrer a outros saberes, mas foi impossível evitar a comparação com esta carta do Tarô, chamada A Casa de Deus.


O problema da nitidez x tamanho é difícil de ser resolvido.



A segunda é sobre as árvores contempladas pelo Leão Verde, símbolo do Vitríolo, o dissolvente universal. Entre elas existe uma letra W de sentido ainda desconhecido para mim.
Por enquanto isso me desafia e se algum leitor tiver uma sugestão, agradeço.




FIGURA DIVINA, UM SÍMBOLO ALQUÍMICO IVa PARTE


por Mario Sales




Io SUB SÍMBOLO: A CABEÇA OU O CÍRCULO DIVINO


O círculo é maravilhoso e complexo, possuindo dentro de si cinco níveis diferentes, do mais interno para o mais externo.

ESQUEMA 7


Em alemão e português

No círculo mais interno, o Centro, está a personalidade divina, descrita como a “Eterna Natureza Incriada”.
No nível imediatamente superior, o simbolista escreveu “A eterna quinta essência”, referindo-se ao elemento invisível que antecederia em densidade, os quatro elementos conhecidos.
No próximo círculo o simbolista colocou a “Matéria Prima de Deus”, sobre a qual falaremos a frente.
No quarto nível, chama a atenção para o mistério da Trindade, escrevendo “Três uni es”, três em um, “é a essência trina da divina pessoa”.
No quinto e mais externo nível, ele escreve três frases: Espírito de Deus; Vida de Deus; Luz da Humanidade, sendo que a palavra humanidade está separada em dois pedaços (human----idade) e no meio deles está escrito “divino fogo”.
É interessante que esta quebra de continuidade da palavra preserva a palavra “human” que significa humano, sendo que a expressão “divino fogo” vem em seguida, dando a impressão a este intérprete de que o divino fogo ou espírito de Deus garante a natureza e a existência do que é humano em nós, e sua transformação em uma espécie inteira de seres. A vida em nós, aquela mesma vida que repassamos aos nossos descendentes através de nosso esperma, é apenas a vestimenta do espírito de Deus em nós, o fogo divino que nos criou, sustenta e mantém, enfim, nos faz existir.
Em meio a todos nós, concluo, Deus caminha.
Não existimos por causa da água em nossos corpos, ou do ar em nossos pulmões, ou do alimento em nosso estômago e intestinos.
Existimos, apenas e tão somente, pela presença de Deus em nós e entre nós. Deus é nous a energia que os rosacruzes reconhecem como fonte da vida.
Outra interpretação que não deve ser olvidada é que, quando falamos da trindade, a Luz da Humanidade é o Cristo, Jesus, que repetindo o mito de Prometeu, trouxe-nos em seu ministério o Fogo Divino, ato pelo qual, do mesmo modo que o deus mitológico, pagou um alto preço.
Voltemos atrás e discorramos um pouco sobre o segundo círculo, aonde se lê “a eterna quinta essência”.
O conceito de “quinta essência” é aristotélico.
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), discípulo de Platão, especulou que existiria um elemento etéreo, quase imaterial, portanto invisível, distinto dos quatro tipos de manifestações materiais (terra, fogo, água e ar), o qual ele chamou de quinta essência, conhecido mais tarde também pelo nome de éter.
É, portanto, razoável, que entre a Eterna Natureza Incriada e a Criação, o simbolista pressuponha a existência desta matéria pouco densa que antecede todas as outras.
Esta quinta essência preencheria o Cosmos, fora do ambiente terrestre, mas na terra, supunha-se haver uma matéria básica da qual todas as coisas em todos os quatro estágios surgiriam. A essa matéria fundamental chamou-se a matéria primeira, ou matéria prima.
O debate sobre sua natureza começou com os Jônios (Tales, Anaximandro e Anaxímenes de Mileto, além de Xenófanes de Jônia e, finalmente, Heráclito de Éfeso), um dando para a água este título, outro ao ar, outro a terra e outro ao fogo.
Empédocles de Agrigento, médico e filósofo, supôs que nenhum elemento sozinho poderia ter esse título e só concebia a existência de todas as coisas como uma combinação dos quatro elementos básicos.
A idéia de que entre o éter no espaço e os quatro elementos na terra, existisse esta matéria prima como intermediária era muito bem quista na época dos alquimistas e assim, este símbolo e estas crenças, falam desta transição.
Existe nos cinco níveis dentro deste círculo o conceito de gradualidade, de manifestação paulatina das coisas visíveis a partir de uma causa invisível.
O curioso é que o simbolista coloca antes ainda do material o mistério da Trindade. Talvez daí o aviso anterior “ entende de acordo com a filosofia celeste e não terrestre”. Ele está falando das coisas espirituais, aonde a densidade de tudo é tão leve e sutil que falamos em um mundo espiritual.
Dentro do círculo ainda estamos dentro do próprio Deus Todo Poderoso, ainda estamos em seu mundo imediato, aonde habitam além D’Ele apenas os anjos, e entre estes, somente os que, na Hierarquia do Pseudo-Areopagita, estão mais próximos do criador: Serafins, Querubins e Tronos.
Por isso, só em um plano mais perto do humano vamos encontrar a manifestação de Deus na Terra, o Cristo, a parte de Deus que chegou a tocar o solo terrestre, na concepção religiosa católica cristã.
É apenas no quinto círculo, o mais externo, que falaremos da humanidade, mas no sentido de Adam Kadmon, a humanidade como um todo, como uma experiência de Deus, parte da tríade já anunciada no 4° círculo. Se lá encontramos a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, aqui no 5° círculo, encontramos as frases Espírito de Deus, Vida de Deus, Luz da Humanidade, correspondendo cada uma delas a um dos membros da tríade divina. (Espírito Santo (de Deus), Deus Pai (Vida) e Deus Filho (Luz da Humanidade).
Deus no princípio, Deus no fim. Deus, o trino, vai de um ao outro Centro.





sexta-feira, 12 de maio de 2017

FIGURA DIVINA, UM SÍMBOLO ALQUIMICO. IIIa PARTE



Senão vejamos:

ESQUEMA 4





Dividindo o símbolo em três partes, a parte do alto tem como destaque uma imagem central, composta de um círculo dourado em cima de uma estrela de seis pontas.
O círculo e a estrela estão circundados pelo mesmo tipo de franja amarela, mais espessa que as que se seguirão abaixo, o que parece ter a intenção de estabelecer um vínculo entre estes dois trechos iniciais mais forte do que com os outros segmentos.
Como disse, o símbolo inteiro, lembra a forma de um corpo humano, sendo a "cabeça" este círculo ao alto, e a estrela de seis pontas a "boca" que cria (vejam que em volta da estrela lê-se FIAT).
O círculo, como comentei antes, representará principalmente o conceito de eterno, já que não tem início nem fim.
Os textos do símbolo que estão ao lado desse círculo devem também ser lidos da maneira correta para serem compreendidos.
encontramos o seguinte esquema:


ESQUEMA 5



O autor do esquema teve o cuidado de marcar com setas os trechos das frases que se interligam e que os simbolistas daquela época não tiveram o cuidado de dispor de modo mais racional sobre o desenho. São 22 textos, entre eles doze frases. Vamos nos ater a parte que estamos estudando.


ESQUEMA 6
  



Primeiro: o texto está em Latim e Alemão. Na publicação da AMORC encontramos a maior parte em português.
Segundo: no esquema acima a primeira frase é:

FIGURA DIVINA THEOSOP.                  CABALIST. NEC NON MAGICA PHILOSOPH.                             & CHIMICA

O artifício de escrever uma parte da palavra e interrompê-la com um ponto, o que não chega a ser nem mesmo uma abreviatura, mas uma simples interrupção, uma espécie de codificação infantil e primária, é uma técnica comum em textos esotéricos da época, hoje preservado apenas e principalmente pelos maçons.
Duas palavras chamam atenção no símbolo onde aparecem assim:



Vejam: há uma letra parecida com um f em ambas as palavras (theo[f]oph, philo[f]oph), mas por sua posição identificamos como S, em um modo de grafia comum em língua alemã. Entendemos então a palavra seguinte como CABALIST, e não CABALIFT, como possa parecer.
O trecho está em Latim e assim vamos traduzi-lo:
FORMA DIVINA, TEOSÓFICA, CABALISTICA, NÃO APENAS MÁGICA, FILOSOFICA E QUIMICA
Esse é o título do trabalho, que antecipa que neste símbolo serão reunidos todos os aspectos da Criação como manifestação de Deus, sua relação com o Divino, e o papel e natureza do ser humano neste drama. Chamo atenção aqui para apalavra CABALISTICA, a qual, considerando estarmos dentro do universo simbólico alquímico referir-se-á, necessariamente, não a Cabala Judaica, mas a Cabala Cristã, de Pico de la Mirandola, alter ego da Alquimia.
Ainda existem outras linhas escritas.
A segunda diz: “O sol eterno em sua natureza e poder divinos”, logo abaixo do título principal e ladeando o topo do círculo amarelo, cor do Sol, cor do ouro, identificando o círculo em questão com Deus Todo Poderoso, “O sol eterno”, Aquele que está no alto, no topo de tudo, que é circular e por isso eterno, sem princípio nem fim.
A próxima frase, também em latim, pode se traduzir:
“Deus trino foi do centro ao centro”, perto do maior diâmetro do Círculo superior, cabeça de todo o símbolo, como a atestar que Deus, a Trindade, está em toda parte, onipresente.
E logo abaixo temos a frase: “Entende de acordo com a filosofia Celeste e não (a) Terrestre”, o que orienta nossa interpretação no sentido de evitar as armadilhas do intelectualismo e manter a mente focada no significado espiritual desse símbolo.

Vamos analisar trecho a trecho.


(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)

sexta-feira, 5 de maio de 2017

FIGURA DIVINA, UM SÍMBOLO ALQUÍMICO. IIa PARTE


por Mario Sales




O símbolo que tentaremos interpretar pode ser encontrado no livro “Símbolos Rosacruzes do século XVI e XVII” pág. 44. Usaremos como apoio o mesmo símbolo em alemão e inglês, disponíveis na Internet.
Primeiro, vamos lembrar de que o contexto deste símbolo é a Alquimia e seus conceitos.
Segundo, devemos ter em mente que para interpretações desta magnitude, é mais adequado aplicarmos o protocolo de duas fases: a primeira, a fase do Inventário, aonde levantamos e identificamos as diversas imagens e textos da composição; e numa segunda fase, a fase da Interpretação, aonde tentamos dar um sentido ao conjunto de dados amealhados pelo inventário.
Lembremos também que nestes exercícios de interpretação não montamos uma narrativa linear, mas sim a narrativa possível a partir da combinação de vários conceitos colocados lado a lado, só que como um mosaico, com poucos pontos de encadeamento. Trata-se de um belíssimo símbolo com um sem número de possibilidades interpretativas. Recomendamos fortemente que se tenha o livro citado e que se acompanhe a descrição com a imagem aberta.


A primeira coisa a destacar é a sua forma que obedece como a maioria dos símbolos desta época, uma disposição de características humanoides, com uma cabeça, um pescoço, ou zona de transição, um tórax com um núcleo cardíaco, e um abdômen a completar o torso. A “cabeça” receberá a função de morada divina, o lugar mais alto do corpo, a "boca" representará a área de manifestação da vontade pela palavra, pela ordem do FAÇA-SE, do FIAT, enquanto o “pescoço” fará o papel de transição entre mundo espiritual e material; e uma vez no mundo material, haverá o território mais elevado, do ar e do sangue, e um mais baixo, dos intestinos e excrementos, enfim, a matéria mais grosseira. Finalmente a sustentação, pernas e pés do símbolo.

ESQUEMA 3

                 
                           


Para evitar o equívoco, no entanto, e garantir que a mensagem fosse passada de modo o mais fiel possível a intenção de quem elaborou, ele é guarnecido, à direita e à esquerda, acima e abaixo e mesmo entre as figuras centrais, com textos explicativos que esclarecem e oferecem novos significados e em si fazem parte do símbolo no seu conjunto.
A importância destes textos é que eles são uma das chaves que abrem as sucessivas portas do significado oculto deste magnífico símbolo.


(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)